Oh la la Paris ma chérie!!

PARIS / parte 1

Meus olhos se entreabriram e pude perceber  um pedaço da fachada de um prédio com mansarda. Estava amanhecendo e uma chuva fina dava àquela paisagem limitada pela janela do taxi, um tom acinzentado.

- Voilá mademoiselle!

Demorei alguns minutos em terminar de me despertar enquanto o chofer tirava minha mala do baú do carro. Um Citroen. Eu havia embarcado no Rio ainda receosa de que o furacão Sandy atrapalhasse a conexão, algumas horas no aeroporto de JFK me permitiram observar os metros de neve que a tempestade de inverno havia deixado por lá...por sorte a viagem a Paris via NY foi tranquila e sem atrasos, porém não dormi direito no avião e quando desembarquei na madrugada da Cidade-Luz me sentia absolutamente exausta.
Alguns devem estar se perguntando o porquê de uma conexão em NY. Foi a melhor opção custo-beneficio que encontrei naquele momento, comprei uma passagem triangulada Rio-Paris-Miami-Rio que me permitiria visitar minha irmã “americana” na volta, e ainda saiu bem mais barato que os voos diretos. Causas etílicas mudaram um pouco o itinerário de regresso, mas...enfim já contarei mais adiante...hic!

Aquela exclamação em francês me acordou de uma soneca reconfortante durante o caminho aeroporto-hostel. Eu poderia haver ido em trem, mas certamente iria passar da estação! De repente uma injeção de adrenalina – aquela que deve atingir a todos os apaixonados por viajar – percorreu meu corpo e em poucos minutos esqueci o cansaço e o frio. Paris, je suis arrivé!!
Escrever sobre Paris é uma tarefa deliciosamente árdua. São tantas as possibilidades de abordar a cidade que a mente e as lembranças bailam entre Arquitetura,  História, Arte, Urbanismo, cafés, música, Belle époque.  Ao caminhar pelas ruas e avenidas fica claro porque ela foi capital cultural indiscutível dos séculos XIX-XX, modelo de urbanismo e local de grandes encontros intelectuais, Man Ray, Picasso, Van Gogh, e tantos outros.

É claro que numa cidade assim, a melhor forma de disfrutar é a pé. De Montmartre, onde ficava o hostel, até chegar ao rio Sena fui seguindo um pouco o mapa mas também deixando-me levar por desvios deleitosos...como uma autêntica flâneur . O termo remete a “vagabundo”, “preguiçoso” e tem também relação com o verbo “flâner” que significa “para passear”. Charles Baudelaire desenvolveu uma definição como “pessoa que anda pela cidade a fim de experimentá-la” e essa era exatamente minha intenção ali.

Um desses caminhos à deriva me levou à Operá de Paris, edifício de Garnier inaugurado em 1875 e inspirador do também belíssimo Teatro Municipal do Rio. Sua construção foi parte da ação de restruturação urbana promovida pelo genial prefeito Haussmann, e dali segui minha caminhada que tinha como objetivo chegar ao rio.
Meu contato com os parisienses fez cair um dos maiores mitos que eu havia escutado sobre eles: que são mau-humorados e se recusam a falar inglês. Ok, posso ter tido sorte...mas o fato é que foram várias as demonstrações de muita simpatia.

Lá estava eu, na minha 2ª parada à deriva, pois foi impossível passar pelo Museu do Louvre e não querer entrar na mesma hora... quando chegou minha vez de comprar o ingresso entendi que o senhor da bilheteria me perguntou da onde eu era e quando eu respondi “ Brasil, Rio de Janeiro” o rosto dele se iluminou de uma forma  incrível. Resultado: apesar da fila de 50 pessoas atrás de mim ele começou a me contar sem pressa e num mix de francês-inglês-portunhol que havia visitado Rio com sua esposa, que adorava bossa nova e estava muito feliz que eu estava visitando Paris.  Se eu não disesse “monsieur, acho que o pessoal aí atrás na fila vai me matar!” ele continuaria conversando! Dali fui guardar minha mochila no guarda-volumes e o rapaz que atendia me olhou com um sorriso maroto e abriu o celular, fez questão de me mostrar as fotos deles no Cristo Redentor. Como não adorar?!

O Louvre é maravilhoso, território inconquistável em apenas 1 dia. Muitos dos que lêem este blog já estiveram lá, e eu apenas estaria falando mais do mesmo se me pusesse a descrever toda sua magnitude. De lá, um passeio pelo Jardin de Tuileries, ai meu deus alguém me beliscaaaa!
Finalmente cheguei à margem do Sena à tardinha e só tinha vontade de continuar andando...deixar-me levar. Segui sentido a Notre Dame e pelo caminho vi que saíam passeios em barco de Île de la Cité...adivinhem...


Minha rotina era sair cedo do hostel, andar o dia todo e voltar tipo 21h, daí ou trazia vinho e queijo comprados em algum mercadinho para compartilhar com o pessoal que estivesse na área dos computadores (uma boa e saborosa dica para economizar, afinal ali os queijos e vinhos nacionais, são nacionais da França né) ou saía pra jantar algo por perto. Aliás, o que são aquelas vitrines de queijosssssss, presuntos, chocolates, e as das confeitariassssss?!!!
Foi muito legal perceber que as aulas de francês que tive no ginásio deixaram um legado em mim rsrs...quase sempre esquecia meu pequeno guia idiomático na hora de sair à noite mas quando alguém puxava conversa pude me comunicar numa boa. 

Já viram que tudo falado em francês parece mais chique?! Padaria. Boulangerie. Feijão preto. Ahicot noir. Fino demais né?
Só caminhar um dia inteiro na chuva tirou todo o glamour desta pessoa. Apesar de ter optado por fazer alguns trechos em metrô  e ir visitando museus ao logo do percurso para disfrutar e também me abrigar (Centre Georges Pompidou, Institute du Monde Arabe), ao final da outra tarde eu parecia um pinto molhado. Fui mesmo assim percorrer o lindooo Boulevard Saint German , e após uma parada no Musée d’Orsay, o clima parecia haver melhorado, as nuvens se dissipavam e eu estava a poucos quarteirões da Torre Eiffel. Era 14 de fevereiro, Dia dos Namorados lá...eu havia me separado há poucos meses, após um relacionamento marcante  que terminou num momento bem difícil da minha vida, mas minha saúde estava recuperada e ali estava euzinha numa viagem maravilhosa que me havia dado de presente. Era um ótimo momento para recuperar o brilho!


Subi a torre no horário estratégico que sempre busco para ver as cidades do alto, tanto de dia como à noite já iluminadas. A lua que nasceu no céu, agora límpido, poderia até parecer que era para os casais que lotavam a fila mas eu sei que ela estava ali só pra me acompanhar.  : )
A visão daquela cidade, Luz enfim ao cair da noite, me fez esquecer até a certa vertigem que dá subir no elevador por entre as estruturas de ferro e entrou para o top 5 da lista de momentos para jamais esquecer. Merci Paris!
Na manhã seguinte fui percorrer Montmartre, bairro boêmio desde os tempos em que Erik Satie se fez amigo de Debussy no antigo cabaret-bar Au Lapin Agile, que ainda existe. A subida ao Sacre Coeur é imperdível e encontrei um caminho mais ameno do que os muitos degraus do acesso mais conhecido. Na Place Tertre uma feirinha de Arte dá o tom do bairro, que possui ainda resquicios dos antigos vinhedos locais. Ali perto, o bairro que segue é onde está situado o famoso Moulin Rouge, que hoje em dia é um show bem turistico.




Já a Avenue Champs Elysées  - olha aí o francês sendo chique de novo, pois afinal é Avenida dos Campos Elíseos mesmo, né gente – é onde se revela toda a grandeza da metrópole. Um eixo monumental entre a Place de la Concorde e o Arco do Triunfo, por onde passaram desfiles históricos.
Eu  c h o q u e i  com a lista imensa de todas as batalhas ganhas por  Napoleão no Arco do Triunfo, uma coisa é ler nos livros outra é...já sabem. Dali, a algumas estações de metrô fica La Défense, distrito modernoso e um dos maiores centro financeiros da Europa, mas sinceramente eu queria voltar rapidamente pra minha cidade-do-filme-do-Woody-Allen.


Passear é bem mais agradável sob o sol e com tempo fresco. E imagina quando você vai caminhando pelo Quartier Latin, daí quebra pra Sorbonne e vai parar no Jardin du Luxembourg, daí vê todos aqueles parienses e visitantes no parque lanchando ou almoçando, sorrindo e sentados na grama?! É ou não é uma inspiração pra fazer o mesmo?! Ah , é simmm. E lá fui eu, comer meu petit-dejéuneur no parque.
Por mais que você andasse o dia inteiro, sempre havia mais lugares por visitar...Saint Chapelle, Maison de Balzac, etcetc. Nos 9 dias que passei lá sabia que outras atrações ficariam para uma próxima viagem pois ainda tinha que reservar 2 dias para ir até a Holanda visitar uma amiga querida, e foi ótimo. Tanta atividade diurna se completava com as noites no hostel...como fui a Amsterdam e voltei, na realidade fiquei em 2 hostels em Paris: o primeiro chamado Calaincourt em Montmartre, bacaninha, normal...e o segundo ao lado da Gare du Nord, chamado Smart Place, muito muito bem localizado e com um astral ótimo. Naqueles dias a galera foi se conhecendo, se cumprimentando e tal, enfim curtimos nossas nights ali mesmo comprando cervejas num quiosque próximo, conversando sobre o país natal de cada um...e havia brasileiros, argentinos, ingleses, alemães, ucranianos, etc. Terminamos com uma mesa de mais de 15 pessoas cantando “Garota de Ipanema” e “Bohemian Rapshody” em uníssono. Lembram que acabei perdendo o voo de volta e tendo que trocar?...Pois é, mas valeu a pena!


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